quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Estelar, "O Grande Hotel Budapeste" pode dar o merecido Oscar a Wes Anderson

Wes Anderson é o mais europeu dos diretores americanos. Sua originalidade estética e a linguagem escolhida para compor seus lexicamente ricos roteiros estão longe, muito longe da média do que é produzido nos EUA em décadas. Exemplos disso são seus sucessos anteriores, como "A Vida Marinha com Steve Zissou" (com Seu Jorge no elenco!), "Viagem a Darjeeling" e o fantástico "Os Excêntricos Tenenbaums". Não à toa, Anderson, mesmo com orçamentos mais parecidos com europeus que hollywoodianos, não tem problemas em conseguir reunir os melhores atores do mundo para papéis coadjuvantes em suas histórias.

O único problema de Anderson, se é que isso é um problema, foi ter criado uma assinatura tão forte e única que seus filmes davam a sensação de serem muito parecidos entre si. Este "problema" foi dissipado com "O Grande Hotel Budapeste". A história se passa em um país fictício do leste europeu no período entre as duas guerras mundiais, centrado em um personagem que administra o hotel do título logo após a contratação de um novo carregador de malas (lobby boy). Ralph Fiennes dá show como M. Gustave, um saudosista da Belle Époque, baseado no romancista austríaco radicado no Brasil Stefan Zweig, com um texto rebuscado afiado, com pitadas certeiras de coprolalia, garantindo altas (em decibéis mesmo) risadas - indicação ao Oscar garantida!

A fotografia, os cenários, as deliciosas interpretações caricatas estão lá, mas com um tempero único neste que é o melhor filme de Wes Anderson. Foto: www.vanityfair.com

Além de Fiennes, o novo filme do diretor americano tem talvez o mais estelar elenco do século: Edward Norton, Tom Wilkinson, Jeff Goldblum, Jude Law, F. Murray Abraham, Harvey Keitel, William Dafoe, Saoirse Ronan, Tilda Swinton (que vai garantir a indicação para Maquiagem - ou pelo menos deveria), Lea Seydoux, Mathieu Almaric e os onipresentes Adrien Brody, Owen Wilson e Jason Schwartzman. A novidade fica para o coadjuvante de Fiennes, o lobby boy Tony Revolori, que não se intimidou de contracenar com Fiennes.

Além do roteiro e elenco, a direção de Anderson deu ainda mais atenção a figurinos e cenários, além de prestar homenagem aos filmes alemães mudos com movimentos de câmera que remetem à década de 20 e 30, acrescentando ainda mais comicidade às cenas do fim de uma época glamourosa esmagada pelo totalitarismo e a guerra. Se "O Grande Hotel Budapeste" não é uma metáfora para passar uma mensagem à atualidade, é no mínimo uma grande realização cinematográfica em todos os aspectos técnicos (edição, fotografia, cenários, figurino, edição, som e maquiagem) e artísticos (roteiro, direção e elenco - será difícil tirar o SAG deste filme em janeiro que vem). É imperdível!