POR RAFAEL YAMAMOTO* (spoiler alert para quem não viu a segunda temporada)
Finalmente, ele é o homem mais poderoso do mundo. De Gaffney
ao Salão Oval. Ele realmente conseguiu. Homem forte, determinado, confiante e
maquiavélico. Frank Underwood é um homem que todos nós deveriamos nos espelhar.
Não? Aliás, ter poder e dinheiro é sinônimo de sucesso nas sociedades
Ocidentais... não, não é.
Quem assiste House of Cards precisa ter cuidado. O
anti-herói, representado por Kevin Spacey, não deve – e nem pode – ser visto
como um modelo positivo para a nossa sociedade atual.
Dinheiro e poder não deveriam ser os nossos objetivos.
Você já parou para pensar no significado da vida? “Por que estamos aqui?” “Para
que vivemos?” “Será que eu deveria me matar de trabalhar para uma empresa? Qual
o ponto disso?”
Quem já assistiu às duas temporadas sabe o preço que
Francis teve que pagar para chegar até lá: traiu amizades, quebrou leis
(jurídicas e éticas) e, acima de tudo, matou pesssoas. Ele não é um herói. Ele
é o vilão do pior tipo que tem: aquele que não parece ser. Ele é tão persuasivo
que ele não só manipula o governo, ele também manipula a audiência. Inclusive,
audiência que ele nem ao mesmo finge que não está lá. Francis é realista. Ele
sabe que estamos assistindo, e ele conversa com a gente. Olha nos nossos olhos
e conta seus planos malignos que trará vantagens para ele. E só para ele. Ele
nos encanta com suas piadas cínicas, seu carisma enganador e sua implacável
ganância pelo poder.
E isso me preocupa. Amigos que também assistem à serie
ficam abismados e vibram com as manobras geniais de Frank. Até chegam a dizer
que querem ser como ele. E isso me preocupa. Como alguém quer ter as características
de Underwood? Será que é por causa do “jeitinho brasileiro”? Da Lei de Gérson? De
como Frank Underwood ensina sua audiência a procurar o ponto fraco de seus
oponentes e não ter piedade?
Agora, como uma pessoa com tantos pecados consegue
viver? Leon Festinger, um psicólogo americano, criou a teoria da Dissonância
Cognitiva. Basicamente, ele explica como nós, seres humanos, criamos e/ou,
dependendo da situação, distorcemos realidade e verdades para olharmos para nós
mesmos como boas pessoas. Se eu tivesse que adivinhar, diria que Frank,
diferente da maioria dos políticos, é sincero consigo mesmo e não se enganaria
ao dizer para sua própria consciência que está fazendo tudo isso pelo seu país. Em vez disso, ele
teria coragem o suficiente de acreditar que o poder é a razão da nossa
existência e apenas o poder nos trará felicidade. Não se engane pensando que
Frank Underwood ficou com a consciência pesada ao matar Zoe, Peter Russo ou até
mesmo o cachorro de seu vizinho.
Eu ainda tenho uma fé genuína e, talvez, ingênua na
humanidade. Acredito que as necessidades humanas básicas não passam de amor,
carinho e afeição. Todo o resto (ganância, inveja etc) é resultado do meio
corrompido que vivemos.
Mas, quando assistir à terceira temporada de House of
Cards (Fev/2015), tenha cuidado, não seja manipulado por Frank, amigo leitor. Não
o veja como um modelo positivo de indivíduo. Olhe para ele como um modelo de
uma pessoa que você não quer ser. A não ser que você queira ser egoísta,
corrupto, infiel e podre. Porque embora a gente consiga mentir para os outros,
no fundo, nós não conseguimos mentir para nós mesmos.
Cena já lendária da segunda temporada de House of Cards. |
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