A didatura argentina talvez tenha sido a mais violenta da América Latina durante as décadas de 70 e 80. Para relembrar a reconquista da democracia, o filme "El Dedo" ("O Dedo"), dirigido por Sergio Teubal, abusa do realismo fantástico para criar uma alegoria sobre este bem precioso que por décadas esteve em falta por nossos lados do mundo (e que, de alguma maneira, está sempre ameaçado).
Na virada de 1982 para 83 (ano que marca o fim da didatura na Argentina), um pequeno povoado ganha seu morador número 501 e poderá ter eleições municipais. O ricaço-coronel do vilarejo tem como adversário o dono da mercearia local, bastante popular. No entanto, este último é assassinado em um crime passional e seu irmão arranca-lhe o dedo, prometendo introduzi-lo no orifício anal do algoz (ok, perdoem-me tantos eufemismos). Sem um adversário a altura, o coronel pensa que ganhará as eleições facilmente. No entanto, o Dedo começa a apontar para os populares saídas para os mais variados dilemas, tornando-se o horáculo do vilarejo.
Utilizando-se de alegorias e muito bom humor, o diretor Sergio Teubal celebra a democracia e mostra que o povo só precisa de um direcionamento para que ele mesmo enxergue suas necessidades e consiga suprí-las, sem precisar do paternalismo / coronelismo / peronismo / kirchnerismo.
Em tempos revoltos em que a presidente Cristina Kirchner cerceia direitos da imprensa e expropria multinacionais estrangeiras, nunca é demais lembrar a reconquista da democracia e seus valores, celebrados por todos os personagens do filme, até mesmo o coronel.
"El Dedo" faz parte do 1º Festival de Cinema Argentino, em cartaz em São Paulo de 1º a 6 de julho. Vale a pena se jogar no escuro destas produções, já que, até hoje, nunca vi um filme argentino ruim. Pelo contrário... veja alguns exemplos aqui neste blog mesmo - "O segredo de teus olhos" e "O Homem ao lado".
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