
Assisti à preestreia de "
Antichrist", o novo filme do cineasta mais polêmico dos últimos 15 anos, o dinamarquês Lars von Trier. Sou absoluto fã do diretor, e mais uma vez, ele faz um filme extremamente impactante, em que você pode gostar ou não, mas nunca ficar indiferente.
Confesso que levei algum tempo para digerir o filme, para voltar a me sentir bem. A sensação de desconforto e sim, terror, é muito forte. Situo o filme como parte de uma trilogia desmitificadora, junto a "
Dogville" e "
Manderlay". Nos três filmes, von Trier mostra que a natureza humana é má (quem me conhece, sabe que concordo totalmente com isso), mesmo nos guetos em que se acredita que não. Em "Dogville", a cidadezinha minúscula e pacata, esteriótipo do "bom selvagem" de Rousseau é a massacradora de uma fugitiva que vira escrava na mão dos "inocentes" caipiras; em Manderlay, os ideais abolicionistas caem por terra, mostrando que mesmo uma comunidade negra, sempre retratada como vítima pela sociedade, pode conter a sua dose de maldade.
Em "Antichrist", von Trier apresenta uma tese um pouco mais provocadora, e, gostaria de comentários, pois isso foi o que eu entendi: as mulheres, sempre retratadas como vítimas pela história, seriam diabólicas, filhas de satã e manipuladoras, assim como as bruxas dos séculos XV e XVI eram descritas. O final do filme mostra que não há saída para as artimanhas femininas... seriam elas, o anticristo da sociedade machista? A ironia é que hoje, no século XXI, a teoria mais chocante e manipuladora, de extrema esquerda digamos, seja a posição arcaica e de extrema direita de outrora.
Teorias à parte, as imagens do prólogo em
superslow são belíssimas e as atuações de William Dafoe e Charlotte Gainsbourg, fantásticas. Destaque, é lógico, para Gainsbourg, possuída por uma psicose que ficará para os anais da história do cinema. Tenho medo dela só de lembrar... mas que voz sensual, ao mesmo tempo...