domingo, 23 de agosto de 2009

"Antichrist" completa trilogia desmitificadora de von Trier


Assisti à preestreia de "Antichrist", o novo filme do cineasta mais polêmico dos últimos 15 anos, o dinamarquês Lars von Trier. Sou absoluto fã do diretor, e mais uma vez, ele faz um filme extremamente impactante, em que você pode gostar ou não, mas nunca ficar indiferente.

Confesso que levei algum tempo para digerir o filme, para voltar a me sentir bem. A sensação de desconforto e sim, terror, é muito forte. Situo o filme como parte de uma trilogia desmitificadora, junto a "Dogville" e "Manderlay". Nos três filmes, von Trier mostra que a natureza humana é má (quem me conhece, sabe que concordo totalmente com isso), mesmo nos guetos em que se acredita que não. Em "Dogville", a cidadezinha minúscula e pacata, esteriótipo do "bom selvagem" de Rousseau é a massacradora de uma fugitiva que vira escrava na mão dos "inocentes" caipiras; em Manderlay, os ideais abolicionistas caem por terra, mostrando que mesmo uma comunidade negra, sempre retratada como vítima pela sociedade, pode conter a sua dose de maldade.

Em "Antichrist", von Trier apresenta uma tese um pouco mais provocadora, e, gostaria de comentários, pois isso foi o que eu entendi: as mulheres, sempre retratadas como vítimas pela história, seriam diabólicas, filhas de satã e manipuladoras, assim como as bruxas dos séculos XV e XVI eram descritas. O final do filme mostra que não há saída para as artimanhas femininas... seriam elas, o anticristo da sociedade machista? A ironia é que hoje, no século XXI, a teoria mais chocante e manipuladora, de extrema esquerda digamos, seja a posição arcaica e de extrema direita de outrora.

Teorias à parte, as imagens do prólogo em superslow são belíssimas e as atuações de William Dafoe e Charlotte Gainsbourg, fantásticas. Destaque, é lógico, para Gainsbourg, possuída por uma psicose que ficará para os anais da história do cinema. Tenho medo dela só de lembrar... mas que voz sensual, ao mesmo tempo...

6 comentários:

Professores disse...

Boa critica, alguns errinhos de português, mas não tiram a qualidade do texto!

Victor Romualdo Francisco disse...

legal, obrigado... e podem meter a boca e apontar erros à vontade... estou aqui pra aprender... e vcs, têm algum blog?

Anônimo disse...

Amigo seria bom você rever essa sua notícia. O anticristo não tem absolutamente NADA a ver com a trilogia de Dogville. O próximo filme se chama Wasinton e não tem data definida para estréia. Muda isso aí que pode confundir a galera.

Victor Romualdo Francisco disse...

Sim, sei que não faz parte da trilogia proposta por Lars Von Trier, mas como explico no texto e no título, encaixo em uma trilogia desmitificadora da boa natureza humana.

zeharmando disse...

Anônimo, ao ler o texto, eu percebi perfeitamente o que o autor quis dizer. Aliás, como ele escreve: "Situo o filme como parte de uma trilogia (...)", percebemos que o autor do texto escolheu livremente considerar esses filmes como uma trilogia da natureza humana - fez isso como livre conclusão, para situar-se perante a obra do diretor/autor - e não que Lars Von Trier descreve os 3 filmes como trilogia. Só uma pessoa sem pré-requisitos básicos para compreensão de um texto poderia fazer esse tipo de confusão... Ah, mais uma coisa Anônimo: Reveja seu texto que está com alguns erros, pra começar, com "Washington"...

Rafael Valle disse...

AntiCristo é, com certeza, um filme que pede um "à mais" do estômago do expectador, porém, nesse caso, enxergo isso de forma positiva, visto que esse incômodo foi causado justamente pelo sucesso no intento do autor, ao colocar cenas provocadoras de forma detalhadamente bem feitas. Quanto a interpretação do filme, deparei-me com uma personagem bipolar tratada por seu próprio marido de uma forma que foge aos padrões modernos, onde ele a levou - ou ao menos tentou - para dentro de si mesma ao invés levar para dentro dela o "eu" de um tratamento hospitalar convencional. Sem falar que o próprio em si de ele exercer a psicanálise com a própria já é algo fora convencional - pra não dizer controverso. Não é um filme do qual diria "feito para se gostar", mas com certeza indicaria dizendo "veja ao menos uma vez, com atenção".