sábado, 27 de fevereiro de 2010

"O Segredo de teus olhos" é o melhor da safra argentina


Um thriller de assassinato, romance platônico, romance real, comédia policial com dramas reais. Como sempre, os filmes com Ricardo Darín, o ator favorito de meu pai, não são polarizados em um lado da vida, no bem ou no mal, no riso ou nas lágrimas. Eles tem de tudo, e na dose certa.

O filme confunde, se explica, se amarra a cada segundo e, principalmente, fala com os olhos. Estes são os momentos mágicos que salpicam a história do investigador criminal Benjamín Esposito, seu fiel e bebum escudeiro Pablo Sandoval, seu amor platônico pela juíza Irene Hastings e um crime brutal que permeia toda a história.

A direção de Juan José Campanella, novamente em dobradinha com Darín ("O Filho da Noiva"), leva o roteiro perfeito a interessantes flashbacks e devaneios que são como uma ótima história contada em uma roda de amigos, algo que nós, do século XIX, talvez nunca mais escutemos. Mas o bom, é que podemos ver neste que é o melhor filme da ótima safra de produções argentinas e, quiçá, o melhor filme do Oscar 2010.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

American Idol: decepções marcam o top 24


Primeira semana do show mais assistido do mundo pra valer e nada de fantástico. Se no ano passado, Alisson, Danny Gokey, Adam Lambert e Lil Rounds assombraram na primeira impressão, ninguém se salvou na nona temporada de American Idol.

A primeira grande decepção veio na terça, quando as garotas, que pareciam o melhor grupo de mulheres em anos, foram só ok. Incluindo a favorita Crystal Bowersox, que muito bem apontada por Simon Cowell, teve uma performance digna de qualquer estação de trem. No dia seguinte, duas apresentações pífias dos garotos: Tim Urban, o mini Tom Welling, de Smallville, foi ridículo com Apologize, enquanto Alex Lambert conseguiu passar dor física a quem o assistia, não pela sua voz, mas pelos seus movimentos no palco. No final, os dois ficaram, eliminando o poser Tyler Grady e o excelente Joe Muñoz, que merecia ter ficado.

Assim como a favorita feminina, Andrew Garcia (foto) ficou abaixo das expectativas. Foi melhor que Bowersox, mas sua impressão de genialidade durante a Hollywood week o colocou tão acima de todos que na noite de quarta ele foi apenas cult, digamos. Lee Dewyse, pelo qual não dava nada, impressionou. Será que tem mais alguma coisa pra sair dali? Todrick Hall foi desprezado pelos juízes, mas não fez nada diferente do que Neo ou qualquer outro black pop-R&B-rapper não faz nesses dias.

A impressão geral é que a expectiva foi grande, mas na hora de mostrar suas vozes, ninguém, repito, ninguém até agora merece ser o novo American Idol.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"A Serious Man" é ode à aleatoriedade


What?..... Seriously..... What?

O novo filme dos irmãos Coen é um grande ponto de interrogação, tanto para o protagonista Larry Gopnik, interpretado por Michael Stuhlbarg. Uma série de acontecimentos tragicômicos, que beiram ao humor negro, chacoalham a vida deste professor de classe média dos 60.

Judeu, Gopnik procura rabinos para tentar entender qual a mensagem, a lição de moral de tudo isso. A resposta está em não haver resposta, na aleatoriedade da vida e no caos que pode surgir do nada mesmo na vida do mais incorrigível CDF, que diante das turbulências, sucumbe à nova ordem.

No post anterior, fiz uma comparação entre o cinema americano e o europeu. E com "A Serious Man" (indicado ao Oscar de melhor filme e roteiro), os irmãos Coen parecem dar a resposta que nos EUA também pode haver uma obra-aberta. Mas acho que eles erram na mão.

"A Fita Branca" tenta delimitar o fim da inocência


Um vilarejo do início do século XX da então rural Alemanha é o cenário do excelente filme de Michael Haneke, "A Fita Branca", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor fotografia. O cotidiano aparentemente bucólico do local começa a ser perturbado por contudentes acidentes e agressões que em um filme americano seria um thriller se suspense em busca do culpado.

Mas Haneke está muito mais interessado nas causas que levam todos nós, os culpados, a sentirmos ódio, luxúria, egoísmo, ganância, vingança em vez da pura e simples compaixão.

A tal fita do título é um instrumento usado para lembrar as crianças do tempo de inocência. E através das várias relações humanas demonstradas em perfeita fotografia em preto e branco, a história tenta delimitar quando a fita é retirada de nós, não fisicamente, mas metaforicamente, direto de nossas almas.

Uma interessante metáfora do filme é com o limiar da Primeira Guerra Mundial, pois a história se passa pouco antes do fato: em todas as casas, há sempre cinco, seis, sete crianças, prontas, para uma após a outra, perderem suas "fitas brancas" e sentirem, como várias bombas em série, todos os sentimentos citados acima.

Seria a explosão demográfica o mal do século? Ou melhor, dos séculos? Ou talvez um prenúncio da geração que tornaria o nazismo real? Bem-vindo de volta ao circuito do cinema europeu, onde o filme só acaba com a sua interpretação da história e não há uma só ou certeira resposta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Rebuscamento atrapalha atores em "The Lovely Bones"


Less is more. Os comentaristas de moda sempre dão este conselho. Peter Jackson, que desde a trilogia ultrapremiada e bilionária do Senhor dos Anéis, ganhou o poder dos efeitos especiais de primeira linha de sua Wingnut Films, parece não saber quando usar uma bazuca quando um simples revólver de chumbinho resolveria.

Em "The Lovely Bones", o elenco estelar conduzido pela garota-prodígio Saiorse Ronan (foto) e com Stanley Tucci (indicado ao Oscar em um papel que o descaracterizou fisicamente), Mark Walhberg, Rachel Weisz e Susan Sarandon, tem suas atuações atrapalhadas pela música, cortes e efeitos visuais sufocantes introduzidos na história pelo diretor, que perdeu a mão.

Em vez de usar a grandiloquência da Terra Média como referência, Jackson poderia inspirar-se em um dos seus primeiros filmes, o tocante e contundente "Heavenly Creatures", que marcou a estreia de Kate Winslet no cinema.