Mostrando postagens com marcador Oscar. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Oscar. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

"A Chegada" tem grau de relevância máximo nos tempos atuais

O quanto um filme é relevante para os tempos atuais? O último Oscar parece ter levado isso muito em conta na última premiação, que tinha “The Revenant” como favorito, principalmente por seus brilhantes aspectos técnicos e atuação ultracomentada de Leonardo DiCaprio (que finalmente ganhou). Mas no final, “Spotlight”, filme-denúncia sobre a investigação da imprensa em cima dos crimes de pedofilia da igreja católica em Boston levou a melhor, em um raro ano em que o melhor filme ganhou apenas duas estatuetas (o outro foi roteiro original).

E se formos levar em questão este quesito, relevância aos tempos atuais, “Arrival” (A Chegada), a nova investida do diretor canadense Denis Villeneuve, já sai com nota onze! O filme trata da chegada de espaçonaves alienígenas em vários pontos da Terra, com foco especial na nave parada no estado americano de Montana.



Em vez de partir para uma abordagem a la “Independece Day”, o filme aposta em alienígenas que não atacam e, muito originalmente, não chegam falando inglês como em todos os filmes. O foco permanece então em como entrar em contato com os mesmos. Eis que entram entra a protagonista, a excelente Amy Adams, interpretando a linguista Louise Banks. Ela será a responsável por decifrar a misteriosa linguagem dos aliens, baseada em ideogramas.

A difícil comunicação com os aliens expõe, na verdade, o outro problema, do filme e também de nossos tempos atuais: o medo, os pré-conceitos e a falta de comunicação e cooperação entre os povos. As várias investigações ao redor do mundo andariam muito mais rápido e teriam resultado muito mais efetivo com a união de todos, algo extremamente óbvio nos dias atuais, mas que o ano de 2016 expôs como algo cada vez mais distante de acontecer, apesar de todo o avanço tecnológico já conseguido pela humanidade.

E isso é apenas uma parte do filme: as teorias sobre tempo e espaço e mais o fio-condutor emocional da relação de Banks com a sua filha também são extremamente bem conduzidos pelo filme, que tecnicamente também tem em sua trilha sonora (do inovador Jóhann Jóhannsson, pela terceira vez trabalhando com Villeneuve) e a fotografia de Bradford Young seus pontos altos.

Um dos melhores filmes do milênio até aqui!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

"Civil War" destrói maniqueísmos com roteiro afiado e elenco estelar

Os filmes do Capitão América foram todos excelentes e em uma escala crescente. Se já achava o "Winter Soldier" o melhor filme da Marvel, o terceiro, este "Civil War", roubou o título agora (o melhor filme de heróis ainda é o "Dark Knight"). Nem cabe a comparação com o tal Batman vs Superman, pois a direção dos irmãos Russo é diametralmente oposta a de Zack Snider: eles priorizam o real, tanto na ação quanto nos sentimentos; já Snider ama os CGIs estilosos e sentimentos... que sentimentos?

"Civil War" é um filme de heróis que os utiliza para falar de temas atuais, humanos, hiperbolizados pelo escudo de vibranium, a armadura de Tony Stark ou as teias do "Garoto"-Aranha: estão lá o olho por olho/pena de morte, terrorismo, o princípio de defesa a todos os cidadãos, o direito à democracia e a importância do pensamento crítico em um instante em que o comportamento de manada toma mais e mais conta das mídias (todas elas).

Chris Evans encabeça o maior e melhor elenco de um filme de super-heróis
Não há vilões ou bandidos, há apenas ações e reações e suas conseqüências. Mas o desafio de fazer um filme deste gênero sem o pensamento fácil do good guy/bad guy não seria possível apenas pela direção dos irmãos Russo ou o afiado roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely. O elenco deveria dar credibilidade, na tela, às ideias propostas. E neste quesito, só aplausos para os fixos dos Avengers Cris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Don Cheadle e Paul Bettany, além das participações estelares do consagrado William Hurt e do cult Daniel Brühl.

"Civil War" é obrigatório para ser assistido e essencial para ser absorvido. Você está realmente pronto para pensar e tomar decisões além do básico, como #TeamCap ou #TeamStark? Este é o real convite deste excelente filme.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Roteiro afinado e protagonista no auge conduzem o excelente "O Abutre"

Os filmes argentinos muitas vezes não tem uma grande produção, mas o roteiro é sempre afinado. Filmes americanos geralmente tem uma grande produção, mas roteiros nem sempre muito interessantes. Ou nem sempre... muitos tem efeitos especiais fantásticos e roteiros e argumentos bem definidos, como os filmes de Christopher Nolan, por exemplo.

O que é raro de se ver é um filme americano sem grande produção que possa brilhar intensamente tanto quanto ou mais que um "Interestelar", por exemplo. Mas isso acontece e aconteceu com "O AbutreNightcrawler", do estreante diretor Dan Gilroy, irmão menos famoso de Tony Gilroy (diretor de Michael Clayton).

A história de um aproveitador psicopata que resolve tornar-se um cinegrafista amador para fornecer imagens de crimes urbanos aos jornais matutinos não parece tão genial quanto o produto final do filme. O clímax da história me deixou literalmente na ponta da cadeira do cinema por mais de 10 minutos. Tudo isso sem efeitos especiais, sem explosões, somente com uma história muito bem conduzida por um texto absolutamente redondo e pela interpretação magnífica de Jake Gyllenhaal (críticos apontam um Oscar para ele - que deveria ter vindo em Brokeback Mountain).

O personagem central, Lou Bloom, é um produto de nossa sociedade. Dentro da lógica "mate ou seja morto", ele não encontra limites para conseguir o que quer, sucesso, diante de falas que parecem saídas diretas do Google e, muitas vezes, de reuniões corporativas de qualquer grande empresa de qualquer segmento profissional. Mais do que um filme que retrata a vida de telejornais à la Datena, "O abutre" é sim um retrato da sociedade e do tipo de ser humano em que cultuamos como bem-sucedidos.

Jake Gyllenhaal perdeu 20kg e buscou ficar parecido com um coiote faminto para o papel de Lou Bloom - foto: www.eonline.com

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Estelar, "O Grande Hotel Budapeste" pode dar o merecido Oscar a Wes Anderson

Wes Anderson é o mais europeu dos diretores americanos. Sua originalidade estética e a linguagem escolhida para compor seus lexicamente ricos roteiros estão longe, muito longe da média do que é produzido nos EUA em décadas. Exemplos disso são seus sucessos anteriores, como "A Vida Marinha com Steve Zissou" (com Seu Jorge no elenco!), "Viagem a Darjeeling" e o fantástico "Os Excêntricos Tenenbaums". Não à toa, Anderson, mesmo com orçamentos mais parecidos com europeus que hollywoodianos, não tem problemas em conseguir reunir os melhores atores do mundo para papéis coadjuvantes em suas histórias.

O único problema de Anderson, se é que isso é um problema, foi ter criado uma assinatura tão forte e única que seus filmes davam a sensação de serem muito parecidos entre si. Este "problema" foi dissipado com "O Grande Hotel Budapeste". A história se passa em um país fictício do leste europeu no período entre as duas guerras mundiais, centrado em um personagem que administra o hotel do título logo após a contratação de um novo carregador de malas (lobby boy). Ralph Fiennes dá show como M. Gustave, um saudosista da Belle Époque, baseado no romancista austríaco radicado no Brasil Stefan Zweig, com um texto rebuscado afiado, com pitadas certeiras de coprolalia, garantindo altas (em decibéis mesmo) risadas - indicação ao Oscar garantida!

A fotografia, os cenários, as deliciosas interpretações caricatas estão lá, mas com um tempero único neste que é o melhor filme de Wes Anderson. Foto: www.vanityfair.com

Além de Fiennes, o novo filme do diretor americano tem talvez o mais estelar elenco do século: Edward Norton, Tom Wilkinson, Jeff Goldblum, Jude Law, F. Murray Abraham, Harvey Keitel, William Dafoe, Saoirse Ronan, Tilda Swinton (que vai garantir a indicação para Maquiagem - ou pelo menos deveria), Lea Seydoux, Mathieu Almaric e os onipresentes Adrien Brody, Owen Wilson e Jason Schwartzman. A novidade fica para o coadjuvante de Fiennes, o lobby boy Tony Revolori, que não se intimidou de contracenar com Fiennes.

Além do roteiro e elenco, a direção de Anderson deu ainda mais atenção a figurinos e cenários, além de prestar homenagem aos filmes alemães mudos com movimentos de câmera que remetem à década de 20 e 30, acrescentando ainda mais comicidade às cenas do fim de uma época glamourosa esmagada pelo totalitarismo e a guerra. Se "O Grande Hotel Budapeste" não é uma metáfora para passar uma mensagem à atualidade, é no mínimo uma grande realização cinematográfica em todos os aspectos técnicos (edição, fotografia, cenários, figurino, edição, som e maquiagem) e artísticos (roteiro, direção e elenco - será difícil tirar o SAG deste filme em janeiro que vem). É imperdível!

segunda-feira, 3 de março de 2014

Em premiação esquizofrênica, "12 Anos de Escravidão" leva mas não convence

A noite do Oscar foi passando e prêmio a prêmio, "Gravidade/Gravity" ia abocanhando todos os prêmios técnicos, que, para mim, contam muito. Cada vez mais, ver um filme no cinema é uma experiência muito mais sensorial do que intelectual. IMAX, 3D, 4D, som digital surround... a indústria e talvez a cultura deste século tenta recriar de forma fantasiosa uma experiência que poderia ser real.

A natureza das categorias do Oscar (edição de som, som, fotografia, edição) é industrial. E com o resultado da noite, o Oscar de 2014 reservou até o último momento (mas talvez sem grandes surpresas) o suspense da noite: "12 Anos de Escravidão" ganharia melhor filme mesmo com Alfonso Cuarón e sua trupe britânica tendo sido excelentes no trabalho da jornada pela sobrevivência no espaço de Sandra Bullock? Sim, foi o que aconteceu. Mas a sensação de esquizofrenia não passou para mim.

No placar final, "Gravidade" levou sete estatuetas (Direção, Fotografia, Efeitos visuais, Som, Edição de Som, Trilha Sonora e Edição), "12 Anos..." três (Filme, Atriz coadjuvante - linda Lupita - e roteiro), "Clube de Compras Dallas/Dallas Buyers Club" três (Ator, Ator coadjuvante - "linda" Jared Leto - e maquiagem). Confira os vencedores.

Quanto aos meus palpites, acertei 16 de 20 possíveis. Fiquei triste com apenas um erro: o roteiro de "12 Anos de Escravidão/12 Years a Slave", trabalho extremamente difícil que John Ridley teve para trazer para o século XXI a impactante história de Solomon Northup. No mais, espero mais filmes do diretor britânico Steve McQueen, que levou por ser um dos produtores de "12 Anos...".

O selfie estelar tem mais de 2 milhões de RTs em menos de duas horas - recorde absoluto no twitter, batendo a foto da reeleição de Obama (quase 800 mil reproduções). Foto: @TheEllenShow

No mais, a festa reservou momentos marcantes, como o discurso de agradecimento do merecido Oscar de ator coadjuvante para Jared Leto (que falou da própria família, passando por Ucrânia, Venezuela, HIV e preconceitos em todas as suas formas), a pizza distribuída pela apresentadora Ellen DeGeneres (sempre natural e simpática) e o selfie mais compartilhado/retuitado da história, batido por Bradley Cooper e com Jennifer Lawrence, Ellen, Brangelina, Kevin Spacey, Lupita Nyong'o e seu irmão e a recordista de indicações ao Oscar Meryl Streep - 18 vezes!!!!

domingo, 2 de março de 2014

Oscar 2014: os meus favoritos não são nada favoritos

O Oscar 2014 promete ser o mais disputado do século. Não há clareza em quem levará alguns dos principais prêmios: direção e filme. "12 Anos de Escravidão/12 Years a Slave" e "Gravidade/Gravity" são os dois que têm mais chances de levar. Ambos os filmes dividiram o prêmio do Sindicato dos Produtores de Hollywood, enquanto "12 Anos.." levou o Globo de Ouro. Na direção, o mexicano Alfonso Cuarón arrebatou o reconhecimento do Sindicato dos Diretores com o seu ultrarrealismo audacioso nas filmagens do excelente "Gravidade", mas no Oscar, não só os Diretores votam.

A minha aposta é que a força temática de "12 Anos..." dê vantagem ao filme do britânico Steve McQueen, apontado nos  EUA como "o" filme sobre a escravidão feito até os dias de hoje. John Ridley fez um excelente trabalho ao adaptar o livro do homem negro livre do século XIX que é sequestrado e vendido como escravo. O material deixado por Solomon Northup pode em muito ajudar em alguns diálogos, mas transpor algumas situações para a  audiência do século XXI com certeza exigiu muita reflexão. "Gravidade" deve arrebatar mais estatuetas que "12 Anos...", principalmente os prêmios técnicos.

Os dois favoritos, filmes extremamente sérios em suas temáticas, são filmes muito bons, mas os dois da lista que mais me agradaram foram duas produções quase que sem chances na festa deste domingo na Califórnia e quem não se levam muito a sério. O primeiro é um filme dos irmãos Cohen, que a cada ano, parecem sair mais e mais dos holofotes. "Inside Llewyn Davis/Balada de um Homem Comum" conta a história de um cantor de folk totalmente fracassado na década de 50, em uma narrativa que parece em muito inspirada em David Lynch. O filme começa com uma surra levada pelo protagonista, que só é "explicada" no final do filme, cujo coadjuvante felino dá pistas de que o destino de Llewyn é um constante giro de 360º. O filme concorre ao Oscar de fotografia (que merecia vencer) e mixagem de som (que deve ir para a "Gravidade").

Inesperadamente hilário, "Nebraska" é o melhor filme do diretor Alexander Payne - Foto: www.trendengel.com
Mas o melhor filme, para mim, é "Nebraska". Eu não entendia e nem compartilhava de todo o furor cult pelos outros filmes do diretor Alexander Payne, em "Sideways" e "The Descendants/Os descendentes". Desta vez, o tal furor não é tão grande, mas o filme, sim! Retratando o processo de deterioramento da sanidade mental de um pai de família octagenário (Bruce Dern, indicado ao Oscar de melhor ator), o filme é um road-movie familiar em que a razão dá lugar ao coração, com diálogos diretos, sem cerimônia e extremamente hilários. Grande destaque para as falas sem papas na língua e a interpretação impagável de  June Squibb, a matriarca. O Oscar de melhor coadjuvante deveria ser dela! Além do Oscar para Squibb, "Nebraska" talvez merecesse o de roteiro original. As indicações como filme, direção e fotografia são totalmente justas.

Bom, mas existe uma diferença entre o que gostaríamos que ganhasse e o que achamos que vai ganhar. Segue a lista do que eu acho que vai acontecer nesta noite de domingo!

Filme: "12 Anos"
Direção: Steve McQueen "12 Anos"
Atriz: Cate Blanchett "Blue Jasmine"
Ator: Matthew McConaughey "Clube de Compras Dallas"
Atriz coadjuvante: Lupita Nyong'o "12 Anos"
Ator coadjuvante: Jared Leto "Clube de Compras Dallas"
Fotografia: "Gravidade"
Roteiro Original: "Ela"
Roteiro Adaptado: "Capitão Phillipps"
Melhor Animação: "Frozen"
Filme Estrangeiro: "A Grande Beleza" (Itália)
Edição: "Gravidade"
Direção de Artes e Cenários: "12 Anos"
Figurino: "O Grande Gatsby"
Maquiagem: "Clube de Compras Dallas"
Trilha Sonora: "Gravidade"
Música: "Ordinary Love" - U2
Som: "Gravidade"
Edição de Som: "Gravidade"
Efeitos Visuais: "Gravidade"







terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Roteiro extraordinário é a força de "Blue Jasmine"

Com muito atraso, vi o mais recente filme de Woody Allen (diretor e roteirista), "Blue Jasmine", indicado ao Oscar de melhor roteiro original, atriz (Cate Blanchett) e atriz coadjuvante (Sally Hawkins). No começo, com a personagem principal, interpretada magistralmente pela classuda Cate Blanchett, favoritíssima ao Oscar, a impressão que tive é que seria mais um dos típicos filmes de Woody Allen, com o personagem principal sendo um verborrágico reclamão da própria vida, atormentando os coadjuvantes em busca de sua própria satisfação utilizando muitas vezes de um sarcasmo de excelente comicidade.

Cate Blanchett e Alec Baldwin são a dondoca e o milionário golpista em "Blue Jasmine", de Woody Allen - Foto: Sony Classics
Ok, é uma maneira de ver até mesmo "Blue Jasmine", com a diferença que o filme estrelado pela australiana é um drama profundo, que engana os espectadores e mostra, ao longo de flashbacks não muito bem delineados, como Jasmine passou de uma dodoca egocêntrica para uma viúva sem-teto que precisa ir morar na casa da irmã adotiva classe média, sem classe e escolaridade (além de dois sobrinhos barulhentos), após descobrir que era traída pelo marido e tê-lo entregado ao FBI por suas falcatruas financeiras. O marido, interpretado por Baldwin, acaba cometendo suicídio.

O choque de personalidades garante os momentos cômicos, mas aos poucos, a esquizofrenia e a insensibilidade da personagem principal, que faz de tudo para retomar sua vida sem esforços e cheia de luxo, toma conta da história. O filme não tem o seu sentido completo desvendado até a última cena, quando nos perguntamos se muitos dos andarilhos que vemos pelas grandes cidades não tem alguma interessante história para contar diante de sua aparente loucura e falta de senso lógico. 

Sobre os prêmios, o filme merece vencer em atriz e roteiro. A interrogação é se o novo escândalo sexual/incestuoso de Woody Allen não vai espantar os votantes da Academia. O histórico diz que não, já que Woody é um dos mais queridos de Hollywood, com 24 indicações e quatro estatuetas.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Lupita Nyong'o ilumina o excelente "12 Anos de Escravidão"

Nesta semana, entrei no site da Amazon e comprei por menos de R$ 3,00 o livro "12 years a Slave", de Solomon Northup, com comentários históricos de Sue Eakins. Foi arrepiante ler em um Kindle, no meio da noite, as palavras "para aqueles que estiverem lendo estas páginas"... dá um senso de diálogo ao longo dos séculos e também estranheza, já que não estava lendo propriamente uma página...

Solomon descreveu com detalhes toda a sua passagem (que durou de 1841 a 1853) de um homem livre do norte dos EUA, que nunca conheceu a escravidão, para uma realidade impensável, de um negro do sul do mesmo país nos meados do século XIX, após ser enganado, drogado, raptado e jogado em um porão por traficantes de escravos profissionais.

Obviamente que a leitura do livro e ir ao cinema assistir ao filme (em preestreia, dia 21 entra em circuito) do aclamado diretor britânico Steve McQueen (de "Shame", que ainda não vi - whata shame!), faz parte da minha maratona rumo ao Oscar (que acontece no dia 2 de março neste ano). O filme foi indicado a nove estatuetas (filme, diretor, ator - Chiwetel Ejiofor, ator coadjuvante - Michael Fassbender, atriz coadjuvante - Lupita Nyong'o, direção de arte, edição, figurino e roteiro adaptado) e pela primeira vez em anos, fui ao cinema comparando um filme a um livro (algo sempre difícil e que exige flexibilidade crítica, em minha opinião).

Nestas situações, sempre há a sensação de que tudo está rápido demais, muita coisa está sendo deixada para trás... Mas Steve McQueen e o roteirista John Ridley fizeram um excelente trabalho. Os flashbacks intercalados em uma narrativa nem tão linear assim, além dos planos com múltiplos takes de câmera, trouxeram para o século XXI algo tão bem caracterizado pelas locações e figurinos no século XIX. Ridley conseguiu criar falas que no livro são apenas descritas para poder levar a história à tela, além de ser criterioso o bastante para cortar partes que reduziriam o drama e ter sensibilidade o bastante para manter diálogos cruciais absolutamente intactos.

Mas há uma coisa que tirou todo o senso crítico de minha ida ao cinema (como comparar a atuação de Benedict Cumberbatch, inglês, que não consegue fazer sotaques americanos, a incrível interpretação do alemão Michael Fassbender, como o sádico Master Epps): todos os segundos em que a estreante Lupita Nyong'o está na tela. Em sua primeira aparição no cinema, como a escrava Patsey, a atriz brilha em cada fala, em cada gesto e em cada olhar, sendo responsável pelo momento mais marcante do filme, em que a partir dali, todos no cinema tiveram uma escolha: continuar chorando até o fim do filme ou não.

Lupita Nyong'o, como Patsey, em sua primeira aparição em "12 Anos de Escravidão/12 Years a Slave", de Steve McQueen - Divulgação/Facebook

Não à toa, ela levou o prêmio do Sindicato dos Atores (Screen Actors Guild Awards) e outras 21 estátuas (o Globo de Ouro foi para Jennifer Lawrence, por "Trapaça/American Hustle") e deve ser a favorita ao Oscar. Sobre isso, o filme é um dos favoritos, junto a Gravidade/Gravity (com quem dividiu o prêmio do Sindicato dos Produtores) e American Hustle. Será um ano daqueles para acertar a categoria melhor filme...

P.S.: Easter Egg - a linda Quvenzhané Wallis, que assombrou o mundo com sua incrível interpretação em "Indomável Sonhadora/Beasts of the Southern Wild", quando tinha apenas 6 anos e foi indicada ao Oscar, também está no filme... tente achá-la!

P.S.2: como assim a trilha sonora de Hans Zimmer não foi indicada?!?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Favorito ao Oscar, "O Artista" é clássico sobre os clássicos

Uma ideia que parece simples, mas que ninguém fez, ou pelo menos ninguém o fez tão bem quanto o diretor francês Michel Hazanavicius: homenagear o cinema mudo americano ao recriar a magia do preto e branco da década de 20 e sua grande reviravolta - a introdução do som na sétima arte. Em "O Artista", Hazanavicius imprime com maestria todas as técnicas do cinema mudo, como a edição dos filmes de terror como "Frankenstein" e a inspiração da direção de atores dos filmes do genial Chaplin.

O filme está em paralelo com o clássico absoluto do cinema em que a temática do impacto do som no cinema mudo é o fio condutor: "Dançando na Chuva". No entanto, se a produção ápice da carreira do ídolo Gene Kelly o som é a salvação, em "O Artista", os efeitos sonoros são no mínimo um barulho incômodo na carreira estrelada do protagonista do filme, o galã fictício George Valentin.

E se o trabalho do diretor (e também esplêndido roteirista) é o grande trunfo do merecido favorito ao Oscar deste ano (com dez indicações), a dupla de protagonistas não fica atrás. Os franceses desconhecidos do grande público (no qual me incluo) Jean Dujardin e Bérénice Bejo (nascida na Argentina, mas criada em Paris) dão um show de caras, bocas e posturas na difícil tarefa de interpretar situações corriqueiras e clichês sem serem caricatos.Dujardin é o favorito a melhor ator, mas Bejo é quem me conquistou por completo. A cena em que imagina-se com o galã em seu camarim é digna do mestre Carlitos.

O filme é uma imperdível lição da sétima arte, com inteligentíssimas metalinguagens e uma homenagem mais do que digna dos franceses, os inventores do cinema, aos que transformaram as películas em uma verdadeira indústria: Hollywood. Nada mais justo que Hollywood retribua a gentileza no próximo dia 26.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

“Gigantes de aço” é tudo o que um filme americano quer ser


Divertido, emocionante, bem dirigido, editado, com um roteiro na medida e, sobretudo, com atuações afiadas. O atual campeão de bilheteria dos EUA, “Gigantes de Aço” (Real Steel) é um blockbuster com cérebro e, principalmente, coração.

O filme se passa em 2020, quando o MMA e o boxe já não são mais atividades humanas, mas sim, destinadas a robôs. O ex-boxeador e apostador inveterado interpretado por Hugh Jackman têm sua vida mudada com a entrada de seu filho (Dakota Goyo) em sua vida.

Mesmo recheados de clichês dos filmes onde os underdogs conseguem dar a volta por cima, a química entre um roteiro muito bem escrito e a dupla de protagonistas criou um clássico instantâneo do gênero “Family Entertainment”. E, além disso, quem sabe, um grande azarão para a temporada de prêmios do cinema (leia-se Globo de Ouro e até mesmo o Oscar).

O filme tem dois paralelos interessantes: com os robôs, remete ao acéfalo ultra-blockbuster “Transformers”, que não chega aos pés de “Gigantes de Aço”; e com o boxe, remete ao filme “O Campeão”, recentemente considerado o mais triste de todos os tempos. Só que no clássico do século XXI, a ligação entre pai e filho parte de direções opostas para um final feliz, diferentemente do filme protagonizado por Jon Voight.

Outro aspecto interessante do filme está nos gadgets usados pelos personagens, apontando tendências de um futuro muito próximo. Celulares e laptops são translúcidos e holográficos. Fica a dica para a Apple e concorrentes, que, com certeza, se inspiraram em “Minority Report” para criar as onipresentes telas touchscreens de hoje.

Soderbergh revisita a ficção-documental em “Contágio”

O diretor Steven Soderbergh reuniu um elenco estelar para dirigir sua nova produção, “Contágio” (Contagion). O filme retrata o início de uma pandemia viral de origem desconhecida e com uma grande velocidade para se espalhar por todo o globo. Nas primeiras cenas, acontece algo que sempre povoou minha imaginação: a morte de um figurão do cinema já no início.

Tudo é tratado de maneira documental, sem sangue jorrando, sem o pânico de outros filmes do gênero. Ficamos sabendo de protocolos biológicos usados pela Organização Mundial da Saúde e como cientistas lidam com situações como esta, com referências reais à recente pandemia do H1N1. O estilo relembra bastante outra produção do diretor, Traffic, mas ainda mais polido, sem maniqueísmos.

Do macrocosmos de decisões internacionais ao microcosmos da famílias dizimadas pela nova doença, ninguém é somente herói, ninguém é somente vilão, e todos são afetados e alterados por uma nova realidade que está presente em todos os cantos do planeta.

Apesar do choque de realidade impresso pelo renomado diretor, o que mais atrai no filme é o seu sutil approach metafórico da pandemia. O que mais aterroriza não é o contágio do vírus, mas o do ódio, da selvageria, do medo, egoísmo e amoralidade que se espalha muito mais rapidamente do que as metástases celulares ribossômicas que ajudam a pandemia. De perto, somos todos a mais virulenta das pestes.

Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Marion Cotillard, Kate Winslet, Lawrence Fishburne, John Hawkes e Jude Law (todos eles indicados e ou vencedores do Oscar, assim como Soderbergh) estão no filme que é, até agora, o favorito ao Oscar de melhor filme, direção, roteiro, edição, fotografia, som, edição de som e trilha sonora do ano que vem.

domingo, 9 de outubro de 2011

"Trust" é o "Crash" de 2011

Um filme que entrou em cartaz em poucas salas, com pouca atenção e pouco marketing entre setembro e outubro;  um filme que volta aos cinemas na época do Oscar por ter recebido várias indicações à principal estatueta do cinema; um filme que surpreende a todos e vence a festa máxima de Hollywood.

O que aconteceu com Crash, em 2004 / 2005 (com seis indicações e três estatuetas, filme, roteiro e edição) pode muito bem acontecer com Trust, filme dirigo por David Schwimmer e estrelado por Clive Owen e a novata e destaque Liana Liberato. Sim, David Schwimmer, o Ross de Friends. E de comédia, o filme não tem nada. A história conta o drama de uma pré-adolescente que vive em chats de internet e acaba sendo estuprada por um pedófilo.

O filme escapa de todos os clichês, mostrando toda a transformação psicológica que ocorre com a menina, que mesmo após o fato se sente atraída pelo abusador, e seu pai, que verdadeiramente sente que toda a estrutura de sua família foi violada. A caminhada real e dolorosa de ambos para reconquistar a confiança um no outro se torna a coluna vertebral deste surpreendente trabalho, que parece ter passado desapercebido nas salas brasileiras.

Se Crash teve seis indicações, eu aposto em cinco para Trust - filme, direção, roteiro, ator e atriz, com Liana Liberato forte nesta corrida.


sábado, 13 de agosto de 2011

Brad Pitt é coadjuvante da Natureza em "A Árvore da Vida"


Uma família chora a morte do irmão do meio no interior dos EUA. Brad Pitt é o impositor patriarca, enquanto a desconhecida (bela e competente) Jessica Chastain é a compreensiva e amável mãe dos humanos que tentam protagonizar a h(H)istória. A pergunta "Por que, Deus?" é ecoada pelo diretor Terrence Malick aos quatro cantos do mundo e do universo. E ecoa, ecoa, ecoa por todos os espaços e também tempos, sem resposta.

Em vez de uma explicação divina, há o espetáculo da Natureza, incólume e imparcial, que coloca a humanidade em seu lugar: por que seríamos nós, diante de toda a imensidão de tempo e espaço, especiais, os únicos a obter respostas e os únicos a ter um tratamento diferente diante da nada misericordiosa Natureza?

Pode-se pensar em um filme sem sentido, ou em um filme ateísta ou agnóstico. Mas Malick propõe um final romântico ao filme vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes deste ano: quando não estivermos mais procurando respostas no tempo e espaço, quando tais conceitos forem relativizados ao nada, todos nós, todos os nossos entes queridos e até mesmo os nossos "eus" passados e futuros estaremos juntos, em um lugar que não pode ser medido ou alcançado, onde tudo e todos simplesmente são (teoria que lembra a minha interpretação para o final de Lost).

A pergunta que fica é: diante da proposta de Malick, no que você acredita?

PS: Oscar Nominations Prediction - Film, Director, Screenplay, Editing, Cinematography, Sound and Best Actress on a Supporting Role.

terça-feira, 26 de abril de 2011

"Sexo sem Compromisso" inverte narrativa de comédias românticas


Desde o século XIX (ou desde a Grécia Antiga talvez), as histórias românticas quase sempre começam platônicas, subvertem obstáculos e chegam ao clímax talvez até literalmente para encerrar a história com um final feliz (casamentos, beijos, concretização sexual de toda a ladainha).

Em "Sexo sem Compromisso" (No Strings Attached), em um improvável papel logo após ser agraciada com o Oscar de melhor atriz por "Cisne Negro", Natalie Portman faz "par romântico" com o anos-luz menos talentoso Ashton Kutcher (mais famoso por seu twitter e por ser casado com a decadente Demi Moore do que por seus papéis... ok, ele fez "Efeito Borboleta"... e só).

As aspas em "par romântico" tem dois motivos: a química entre os atores é bastante fraca, o que pode ser subjetivo, mas o que é objetivo na história que o casal passa grande parte do filme concretizando a ladainha sexualmente sem nenhum envolvimento, ao menos da parte da personagem de Portman.

Arrastado até o final, o clímax salva o filme graças ao bom diretor Ivan Reitman, dos clássicos da Sessão da Tarde "Os Caça-Fantasmas" e (do excelente) "Dave - Presidente por um Dia". Reitman consegue transformar em clímax o que é o começo de quase todas as comédias românticas: um simples caminhar de mãos dadas. Toda a sensualidade do filme está ali, onde, em outras histórias, está na sexualidade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Exagero dramático marca tom de "Biutiful"


O filme "Biutiful", a mais recente produção do diretor cult mexicano Alejandro González Iñárritú, de Babel e 21 Gramas, é carregado no drama, como todos já é marca do cineasta. A produção pode ser encarada até mesmo como um filme documental, que mostra o lado feio de Barcelona: imigrantes chineses em trabalho semi-escravo produzindo mercadorias piratas para imigrantes africanos venderem nas ruas.

O protagonista, vivido por Javier Bardem (já icônico como o ator latino de Hollywood, tomando o posto de Antonio Bandeiras como muito, muito mais talento), é o atravessador de toda a situação, controlando o pagamento de propinas para que a polícia deixe este submundo continuar vivendo. Além disso, Uxbal, seu personagem, tem que cuidar de dois filhos pequenos, frutos de um relacionamento fracassado com uma mulher bipolar e drogada.

Só isso já bastava para garantir o drama, mas o exagero de Iñárritú quis que Uxbal também sofresse de câncer terminal e ainda fosse uma espécie de Haley Joel Osment ("I see dead people"). O filme se perde em meio a tantas linhas a se seguir e acaba deixando perguntas das razões pelas quais tanta desgraça se abate em um único homem.

Alheio aos problema de roteiro, Bardem brinda a todos com mais uma grande atuação, indicada ao Oscar. Vale... por ele.

"The King's Speech" leva quatro estatuetas


O filme favorito, que ultrapassou "The Social Network" nas apostas desde o começo do ano, venceu. "The King's Speech" (O Discurso do Rei) levou as estatuetas de filme, direção (Tom Hooper confirmou o favoritismo apesar da fama e talento de David Fincher), ator (Colin Firth venceu todos os prêmios desde o começo do ano) e Roteiro Original. Faltou ao filme outros prêmios para embasar o seu grande favoritismo (como minhas apostas em fotografia, direção de arte e figurino).

À Rede Social restou seus prêmios incontestáveis de Edição, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora (extremamente original). Outros incontestáveis foram a atriz, Natalie Portman, que conquistou público e crítica por seu "Black Swan", e os coadjuvantes do filme "The Fighter", Melissa Leo e Christian Bale.

Eu não fui tão bem nos palpites, ignorando os prêmios técnicos de "Inception" (que levou quatro prêmios - fotografia, efeitos visuais, som e mixagem) e "Alice" (figurino e direção de arte). Na quinta, estreia aqui em São Paulo o vencedor de filme estrangeiro, o dinamarquês "In a Better World", outro erro nas minhas apostas.

Mal posso esperar pela nova safra de filmes e uma nova reunião com os amigos. Grande noite!

PS: ah, a lista completa, sempre lá, no melhor site da internet!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Palpites do Oscar


Vamos lá para os palpites antes da festa. Achava que seria mais fácil...

Filme: The King's Speech
Direção: Tom Hooper
Ator: Colin Firth
Ator coadjuvante: Christian Bale
Atriz: Natalie Portman
Atriz coadjuvante: Melissa Leo
Roteiro Original: The King's Speech
Roteiro Adaptado: The Social Network
Fotografia: The King's Speech
Animação: Toy Story 3
Filme Estrangeiro: Incendies
Edição: The Social Network
Direção de arte: The King's Speech
Figurino: The King's Speech
Maquiagem: The Wolfman
Trilha Sonora: The Social Network
Música: Country Song
Mixagem de som: Inception
Edição de Som: Unstoppable
Efeitos Visuais: Hereafter

sábado, 26 de fevereiro de 2011

127 Horas traz emoções à flor da pele... literalmente


O novo filme do diretor Danny Boyle mostra, no aspecto técnico, o quanto ele gostou de trabalhar com a equipe que lhe ajudou a faturar 8 Oscar dois anos atrás com "Slumdog Millionaire". Fotografia, edição e música tiveram sua qualidade e assinaturas mantidas. Lá também estão os ângulos originais para se contar uma história, qualquer que seja ela.

A escolha de contar a aventura de Aron Ralston, preso em meio aos infinitos canyons das Rocky Montains americanas, realmente não é das mais fáceis. Como manter o interesse da plateia diante de uma situação extremamente aflitiva, mas ao mesmo tempo, estática? Em meio a delírios e alucinações surrealistas, o que sobra de mais forte é o desespero do protagonista, interpretado pelo indicado ao Oscar deste ano James Franco. Em muitos minutos, as situações transpõem a tela e simplesmente está em você

O resultado é um bom filme (um pouco apelativo), uma boa interpretação, mas distante de garantir qualquer prêmio notável. A produção, pela temática, nos faz lembrar de outro filme da safra, "Enterrado Vivo" (Buried), dirigido pelo espanhol Rodrigo Cortés e surpreendentemente muito bem interpretado por Ryan Reynolds. A história passa toda, toda, 1h30 minutos, dentro de um caixão. E consegue passar muito mais emoção, com nexo, que em 127 horas. Fez falta na lista de indicações para a premição de domingo.

Atuações abrilhantam o western-Disney dos Cohen


Ok, demorei para escrever sobre "Bravura Indômita" (True Grit), dos irmãos Cohen, e fui totalmente influenciado por um comentário de uma superamiga minha. Realmente, a releitura do clássico pela dupla de cineastas mais original dos EUA (em sua primeira história não original, já que é um remake) ficou mesmo parecendo um filme da Disney.

Isso pode ser pejorativo considerando a maioria dos filmes desta categoria (mas eu gosto muito de Seabiscuit), mas o que eleva o filme para um outro patamar são as atuações. Jeff Bridges, no papel do xerife-beberrão contratado por uma garota obstinada em vingar a morte e seu pai, está, com sempre, admirável, merecendo a indicação como melhor ator. Matt Damon se colocou como coadjuvante e coroou o seu ano de versatilidade depois de ficar um tanto marcado pelo incrível Jason Bourne.

Mas a estrela do filme é a atriz no papel da garota obstinada, Hailee Steinfeld, que concorre à estatueta de coadjuvante (?) no Oscar deste ano. Realmente aqui não dá pra entender porque Hailee é coadjuvante. Ela está em quase todos os segundos na tela, entregando suas falas com uma firmeza e eloquência impressionantes e fazendo do seu personagem Disney um marco nos westerns modernos. Hail to Hailee.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Coadjuvantes brilham no naturalista "O Vencedor"


Muitos podem falar que o filme favorito a dois Oscar nesta premiação é "mais um filme de boxe". Ok, o esporte está lá, o protagonista e seus coadjuvantes respiram este estilo de vida, mas, no meio do filme, você percebe que a história gira muito mais em torno de uma família desestruturada, ou se você preferir, uma família comum, que se sente importante devido ao esporte, mas está na verdade, se partindo devido às drogas e ao desinteresse por levar a vida realmente à sério.

Mark Wahlberg é o protagonista e produtor de "O Vencedor" (The Fighter), a história real da vida dos irmãos Micky Ward, que tenta caminhar no mundo do boxe treinado pelo seu irmão mais velho e viciado em crack, Dick Eklund (Christian Bale, mais uma vez fantástico e favoritíssimo ao prêmio de coadjuvante). A maior glória de Eklund foi ter nocauteado (?) Sugar Ray Leonard, em 1978. Desde então, ele e sua mãe (Melissa Leo, também incrível no papel de uma matriarca decadente e iludida e também favorita à estatueta de coadjuvante) acreditam que já fizeram o bastante e que os problemas se resolvem facilmente.

O conflito entre o mundo real, o qual Wahlberg quer alcançar, e a ilusão, partilhada por seus parentes, é o mais interessante neste filme em que o boxe é uma luta secundária.

PS: Amy Adams, que vive a namorada de Wahlberg, também foi indicada. Bale, além da grande atuação, chamou a atenção pela incrível transformação física para se parecer com um viciado em crack. Magro e alucinado, levou todos os prêmios de melhor coadjuvante até aqui.