quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nem os R$ 0,20 acabaram ainda...

Não, não são só R$ 0,20 e eles nem acabaram ainda. Se a revogação do aumento em São Paulo (onde os vinte centavos são literais) e em outras grandes cidades do Brasil é algo a ser comemorado e muito, temos que lembrar que crescemos e aprendemos muito nesta quase uma semana de prática efetiva de cidadania. Mas que tal continuar a aprender e ir mais fundo na lição.

Pela manhã, após mais de uma hora de atraso, o prefeito Fernando Haddad concedeu uma coletiva absolutamente arrogante e descolada da realidade, não dando indícios de que em qualquer momento próximo o aumento seria revogado. Quando perguntado pelo SPTV quais setores poderiam ser afetados com a revogação da passagem, respondeu que não tinha levado isso em consideração ainda.

Seis horas depois, estava em nova coletiva, acompanhado do governador Geraldo Alckmin, para anunciar a tão pedida revogação dos R$ 0,20. Festa, ok... mas o que mudou em seis horas? O que foi combinado com a presidentE Dilma e o ex-presidente Lula para a ação articulada junto com o Rio de Janeiro? De onde eles vão retirar o dinheiro para custear a revogação ("nós vamos ter que cortar investimentos")? Todos nós queremos que os cortes provenham de uma administração mais responsável e menos corrupta, mas não foi isso o que foi sinalizado.

E acima de tudo, para provar que realmente não é tudo pelos vinte centavos: todos os protestos são pelo direito de poder participar e sermos protagonistas nas decisões das três esferas governamentais e não apenas entrar com o dinheiro para custear os desmandos dos políticos. Fizemo-nos ouvir, mas ainda somos tratados com unilateralidade. A revogação foi feita em um anúncio e não em uma coletiva, onde as perguntas acima poderiam ter sido feitas.... ou eu estou sendo ingênuo?


Sim, acredito que esteja sendo ingênuo. A revolta e os protestos não foram apenas contra os três poderes nestes últimos dias, mas também contra o "quarto" poder, a imprensa. Sempre ouvia com bocejos aos meus amigos "radicais de esquerda" que sempre postam que Globo, Veja, Folha e Estadão são vendidos e atrelados ao establishment. Mas para ser bastante caridoso, a semana passada foi uma grande prova disso. Desde os editoriais de Folha e Estadão, que incitaram a violência policial da quinta-feira, aos esquizofrênicos tratamentos de Arnaldo Jabor e Veja aos protestos (comparando os manifestantes ao PCC e a vândalos), os quatro grandes viraram a casaca de maneira vergonhosa para não ficar com a imagem completamente abalada diante da opinião pública (... ainda estou para ver neste sábado a capa da Veja ou Vejinha com o título "os heróis dos vinte centavos").

Mas para ser construtivo e continuar falando das lições que podemos aprender, quero muito que a cobertura política pare de ser uma coluna social de fofocas entre partidos, de mensagens leva-e-traz e disputa de pré-primário em tempos de eleição, onde o que importa são as pesquisas e quem está na frente. Está na hora de propor uma agenda, de expor problemas que farão a sociedade crescer como um todo e fazer as perguntas além do óbvio, enxergar além. Não deve ser difícil... o povo, ignorante, analfabeto e esfolado de impostos enxergou, está propondo e continuará propondo. De que lado os quatro poderes estarão nesta nova realidade?

Link da foto: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/19/rio-e-sao-paulo-anunciam-a-reducao-da-tarifa-apos-pressao-popular.htm

terça-feira, 11 de junho de 2013

"Please, mind the gap" entre Londres e outras grandes cidades

Bom, o blog está bem desatualizado e esta postagem já vai estar meio antiga. Pra quem não sabe, ganhei uma promoção da Heineken para assistir a grande final da Champions League entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique totalmente na faixa e lá estive de 22 a 26 de maio. Nunca tive real vontade de ir para Londres e talvez o destino realmente tenha me dado este presente para reparar este erro gravíssimo que seria não conhecer esta que é, na verdade, a grande capital cosmopolita do mundo.


Um brasileiro que lá estava e nos acompanhou de Metrô (ou Underground) até Wembley disse algo emblemático: "em Londres, todo mundo fala inglês, mas não se ouve inglês". Parece estranho, mas é verdade. Há várias rodas de pessoas, a grande maioria falando outros idiomas, com diferentes feições, e as interações entre essas rodas sempre acontece em inglês. Meu grupo de sortudos da Heineken era prova constante disso.

Londres é uma cidade milenar, emblemática, cheia de castelos e construções imponentes, mas que não conseguem impor sua pompa aos habitantes ou visitantes, como acontece na ofuscante Paris. Ali, a cidade mais bonita do mundo devido o dedo do homem, as construções ditam o cotidiano e se sobressaltam. Em Nova York, a capital globalizada do mundo, o dinheiro empurra as pessoas como em nenhum outro lugar, imperando a impessoalidade fria em suas esquinas previsivelmente opulentas.

Em Londres, as pessoas dão o tom da cidade, mesmo que dali não sejam, mas justamente pelo fato de metade das pessoas não serem dali, os laços entre elas acabem sendo tão importantes, transcendendo fronteiras e exalando toda a cultura mundial em restaurantes, museus e até mesmo nos pubs.

E foi assim neste final de semana mágico, onde os alemães finalmente invadiram a ilha mais poderosa do mundo, com suas faixas predominantemente amarelas, as vezes vermelhas, e tornando o alemão o idioma oficial dos pontos turísticos da cidade da rainha: Picadilly Circus, Trafalgar e Wembley estavam tomados.


(o vídeo também é legal)




Mas lógico que havia exceções, como Felipão e Parreira que estavam fazendo compras na famosa Regent Street ou os brasileiros perdidos na entrada de Wembley. Um nada perdido era o repórter João Castelo Branco, da ESPN Brasil, que nos entrevistou para o pré-jogo.


No jogo, todos que não tinham um partido claro, como eu, acabaram por torcer pelo primo pobre, mas aguerrido, Borussia Dortmund. Mas depois que a marcação-pressão dos amarelos não continuou, ficou claro que a categoria do Bayern de Munique resolveria o jogo: 2 a 1, com gol no finalzinho de Robben.

O que realmente não esperava era que, na saída, onde todos os torcedores passariam por um só corredor e pegariam o mesmo vagão de trem, não houvesse uma só provocação, um só ato de incivilidade entre os rivais alemães. Impressionante.

Voltando a Londres, aliás, é isso mesmo, tenho que voltar à Londres para poder conhecer mais e mais essa que, para mim, é a cidade mais interessante para se conhecer.

PS: o "mind the gap" vem da frase "Please mind the gap between the train and the platform" dita em cada estação de metrô... hipnotizante!



sábado, 13 de abril de 2013

Cidadania: a coerção do que faz bem (reflexão sobre a maioridade penal)

A redução da maioridade penal é o assunto da semana depois do estúpido assassinato do estudante Victor Depmann, morto com um tiro na cabeça por causa de um celular por um menor que completou hoje 18 anos. Como se entregou antes da maioridade, poderá cumprir pena socioeducativa e sair em três anos. A pauta do dia é a redução da maioridade penal para 16 anos, algo que até já virou disputa política entre PSDB (governo estadual) x PT (governo municipal e federal).

Deixando de lado as pícuinhas, acho razoável a redução da maioridade penal aos 16 anos. Mas e o caso da adolescente de 15 anos que matou um turista em Santos? E se algum menino ou menina cometer um assassinato aos 12, vamos reduzir a maioridade penal a este limite também? O pedido pela redução da maioridade penal vem de dois tipos de pessoas: os eufemicos, que na verdade gostariam que todos os "favelados morressem" (sim, milhões de pessoas querem isso), ou os imediatistas, que querem uma solução instântanea para o problema.

A questão é os problemas no Brasil sempre são tratados com imediatismo, com remediação e nunca prevenção. Podemos sim reduzir a maioridade para 16 anos, mas quando vamos parar de negligenciar educação e oportunidades descentes a um contigente de milhões de jovens que não conseguem enxergar as opções que têm além da criminalidade?

Podemos fazer passeatas todos os dias para lutar contra a corrupção, falta de educação, saúde e vergonha na cara dos políticos, mas quem é que tem tempo e disposição para tal? Eu não tenho tempo e confesso, com certa vergonha, que não tenho disposição para "sair às ruas e lutar pelos meus direitos".

Mas existe uma coisa que todos podemos fazer e está ao nosso alcance, diariamente: sermos cidadãos e agirmos de maneira consciente e benéfica para a socieade, e não para o nosso próprio bem. Não falsificar carteirinhas de estudante (que levaram ao aumento absurdo de ingressos em todo o país, já que o preço real é a meia entrada, pois todos falsificam), não jogar lixo pela cidade, não achar normal furar filas, não achar normal ter que pagar "comissões", não achar normal fazer o errado porque "todo mundo faz". Um bom exemplo disso é a faixa de pedestres: quem não respeita, já ganha olhares feios de boa parte de quem está em volta.



Um filme em particular me vem a mente e uma lição tirei dele: princípios só são princípios quando os usamos mesmo de forma inconveniente a nós mesmos. A personagem principal de "The Contender", interpretada por Joan Allen, é a mensageira desta frase que nunca saiu da minha cabeça (não veja o vídeo se você não assistiu ao filme; veja se você já viu e quer relembrar)

Onde o certo é regra, o errado é mais difícil de ser cometido. Ser cidadão e pregar este espírito e exercer a coerção do que faz bem para todos é o caminho mais longo para evitarmos tragédias, mas é o único que trará a estabilidade com certeza. Vamos começar? Todos os segundos são um convite para tal. Eu tento e espero estar mais acertando que errando. E você?

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Patriotada premonitória?

O filme "Invasão à Casa Branca" (Olympus has Fallen, no termo técnico da CIA, muito mais legal, by the way) tem tudo o que revolta os anti-americanos: trilha sonora grandiloquentemente irritante, apologia às armas, discursos de "we will prevail no matter what" e um cara que consegue fazer de um tudo, vivido por Gerald Butler.

Eu não sou anti-americano (pelo contrário) e gosto sim de filmes de ação. Óbvio que eles são melhores quando são tecnicamente inovadores (como a trilogia Bourne) ou tem realmente um roteiro por trás deles (como Casino Royale ou até mesmo Skyfall). Não é muito o caso de "Invasão à Casa Branca", que no máximo absorveu a sanguinolência de "The Walking Dead" para retratar as dezenas de mortes/assassinatos à queima-roupa.

O mérito do filme está em sua atualidade até mesmo de acordo com sua semana de estreia: os terroristas são da Coreia do Norte, que (ainda bem) não sai do chove-não-molha com seu ataque nuclear aos EUA. Em uma versão rocambolicamente impossível, o filme é um manual como a Coreia do Norte deveria proceder para conseguir seus objetivos. A falha do roteiro talvez seja em apostar na ação e não em explorar quais são esses motivos, que ninguém sabe ao certo quais são do lado de cá da telona.

O elenco está acima da história, com Butler com protagonista, Aaron Eckhart e Morgan Freeman tirando de letra a superficialidade dos papéis e Rick Yune (que não via desde de Die Another Day), como o vilão.

Se você está de férias e não tem o que fazer, assista!