domingo, 24 de janeiro de 2010

"Cada um com seus pobrema" é desfile de paulistanidades


A peça de Marcelo Médici é um sucesso há várias temporadas com personagens excêntricos que, na verdade, são um mosaico das inúmeras personalidades que no Brasil só podem ser vistas na paulicéia: a doméstica nordestina, o mano corintiano, a imigrante oriental, o surfista acéfalo, a vidente pilantra, o gay insuportável e por aí vai.

O talento de Médici na mudança de um personagem para outro é notável, além da alteração do texto de acordo com a atualidade, importante para manter as risadas ainda mais frescas. O único porém parece ser acertar o tempo de retomada do texto com as risadas da platéia, pois alguns ganchos se perdem em meio à acústica difusa.

Se a peça tem em seu forte montar um mosaico colorido e único do cotidiano paulistano, os defeitos também parecem se inspirar na cidade: o Citibank Hall serve para maximizar os lucros dos produtores, não para o conforto da platéia, que fica espremida nas mesas, e muitas vezes, não tem a visibilidade sequer perto da ideal para ver o espetáculo. Ou seja: muito parecido com o busão que Sanderson ou Cleusa, personagens da peça, devem pegar diariamente para irem a seus "trampos".

Vale a pena pelo preço médio de R$ 100? Até vale, o espetáculo diverte, mas o incômodo da "casa de shows" ainda me perturba. A peça de teatro deveria estar em seu lugar: no teatro.

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