quinta-feira, 26 de maio de 2011

"O Homem ao Lado" transpõe mito rousseauriano para o século XXI


Como ganhei vários ingressos do Cinemark, ultimamente só tenho ido ver blockbusters. Não tenho escrito nada pois o que se pode dizer de filmes como "Thor", além de que deveriam ser vistos apenas nesta condição: de graça.

Após este período cinemarkiano um pouco triste, fui resgato ao circuito alternativo por meu pai, fã do cinema argentino e, por supuesto fã dele, Ricardo Darín. O filme em questão é "O Homen ao Lado" (El Hombre De Al Lado), que tem como premissa uma história que conhecemos bem: desde Eça de Queirós, com "A Cidade e a Serra", até James Cameron, com "Avatar", conhecemos o mito do bom selvagem - homem moderno, mau / homem selvagem e puro, bom.

O que o filme argentino dirigido pela dupla Mariano Cohn e Gastón Duprat propõe é o transporte para o nosso século, o nosso cotidiano, e colocar o espelho na frente de nós, ó mauricinhos da urbe, para a direção que as relações humanas estão tomando em nossos tempos.

A história contrapões dois-pés-no-saco, cada um a seu estilo: Leonardo (Rafael Spregelburd), um arquiteto/designer modernoso e famoso, e o tiozão do bar da esquina Victor (Daniel Aráoz). Eles nem se conheciam até que Victor decide fazer uma janela que dá para uma janela dos fundos de Leonardo, o que é ilegal e desvalorizaria seu imóvel-obra de arte: a única residência projetada pelo famoso arquiteto Le Corbusier em toda a América do Sul.

A partir daí, situações cômicas, constrangedoras e inimagináveis se desenrolam para um clímax totalmente inesperado. O filme é muito relevante antropologicamente e nos lembra muito a polêmica do mês em São Paulo sobre a tal "gente diferenciada" - até onde o hedonismo e o isolacionismo de classes e formação acadêmica pode nos levar? A filha de Leonardo, que passa o filme todo sem proferir sentenças inteligíveis, que vive de fone de ouvido e não interage com os próprios pais é a resposta do próprio filme à questão.

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