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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dilema que assombra a Ucrânia há séculos reaparece em Kiev

Leis contra reuniões para protestar contra um governo que não age com transparência diante da população que o elegeu acabam por gerar mais revolta em uma democracia recém-instaurada. Não, não estou falando de algo que pode acontecer no Brasil em alguns meses, mas sim sobre a Ucrânia, que hoje enfrenta o dia mais sangrento desde que os protestos começaram no fim de 2013. Milhares estão nas ruas de Kiev, tomaram a prefeitura e cercaram a polícia, em um confronto que já causou dezenas de mortos - acompanhe pelo link.

Kiev em chamas - Live streaming de http://rt.com/on-air/ukraine-central-kiev-protest/ - 18 de fevereiro de 2014

Só que na Ucrânia, diferentemente do Brasil ou a Tailândia, onde a corrupção e a falta de transparência no uso do dinheiro público causa uma latente revolta da população, há um componente histórico recorrente: o dilema entre a internacionalismo ou a russificação? O dilema é inclusive o título de um livro dos anos 60, escrito por Leonid Dzuba.

A Ucrânia vive um período único em sua história. Há 22 anos, é um país independente. Nunca, por tanto tempo, conseguiu ficar sem o domínio claro de uma potência estrangeira. O outro período de maior "independência" foi de 1917 a 1921 - o fim dos czares deu a falsa esperança que os bolcheviques permitiriam que um povo com uma cultura definida pudesse ter finalmente o seu próprio país, com suas próprias fronteiras.

Aliás, a palavra Ucrânia quer dizer isso mesmo, fronteiras... algo constantemente alterado durante os séculos de existência desta nação. A Ucrânia sempre esteve no meio de outras potências e, para escapar do domínio de uma, fazia alianças com a outra, que, invariavelmente, tornava-se o próximo poder opressor. Foi assim com o Império Bizantino e os mongóis, com os poloneses e os russos, com os nazistas e os soviéticos. No entanto, quem mais esteve no domínio da Ucrânia foram os russos, que deste 1654 (Tratado de Pereyaslav - fim do domínio polaco-lituano), praticamente anexaram o país.

E este é o principal motivo dos protestos: os ucranianos querem o fim da influência russa sob o país, algo que não parece ser o desejo do governo do presidente Viktor Yanukovych, que esteve perto de assinar um acordo comercial com a União Europeia (Internacionalismo), mas, por fim, assinou um acordo de mais de 15 bilhões de euros em compras de títulos nacionais por parte de Vladimir Putin (Russificação).

Além do desejo de realmente ser independente da Rússia, feridas históricas afastam a maioria da população do desejo de continuar sobre a esfera da Moscou. O fato mais marcante é o "Holodomor", política de genocídio aplicada por Stalin em 1932 e 1933 contra os camponeses ucranianos que não colaboraram com o plano quinquenal. A ação, que consistia cortar o fornecimento de alimentos a regiões do país, causou mais de 3 milhões de mortes diretas e 6 milhões de forma indireta, devido à desnutrição da geração posterior. O fato ainda é contestado historicamente.

Vamos ver o que os próximos dias e meses trarão para a continuidade destes poucos anos, inéditos, de independência da Ucrânia. A história mostra que escolher um lado contra o outro nunca trouxe resultados definitivos para que a terra chamada de "fronteira" pudesse ter as suas intactas por muito tempo. Chegou a hora de realmente caminhar com as próprias pernas?

Para saber mais sobre a história da Ucrânia, além da óbvia (e fantástica) Wikipédia, indico a série de documentários do cineasta polonês Jerzy Hoffman. São longos, mas pra quem gosta de História, dá pra assistir um por dia de boa (vi todos hoje). Seguem os links abaixo:

Ukraine - Birth of a Nation - Parte 1

Ukraine - Birth of a Nation - Parte 2

Ukraine - Birth of a Nation - Parte 3

Ukraine - Birth of a Nation - Parte 4

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nem os R$ 0,20 acabaram ainda...

Não, não são só R$ 0,20 e eles nem acabaram ainda. Se a revogação do aumento em São Paulo (onde os vinte centavos são literais) e em outras grandes cidades do Brasil é algo a ser comemorado e muito, temos que lembrar que crescemos e aprendemos muito nesta quase uma semana de prática efetiva de cidadania. Mas que tal continuar a aprender e ir mais fundo na lição.

Pela manhã, após mais de uma hora de atraso, o prefeito Fernando Haddad concedeu uma coletiva absolutamente arrogante e descolada da realidade, não dando indícios de que em qualquer momento próximo o aumento seria revogado. Quando perguntado pelo SPTV quais setores poderiam ser afetados com a revogação da passagem, respondeu que não tinha levado isso em consideração ainda.

Seis horas depois, estava em nova coletiva, acompanhado do governador Geraldo Alckmin, para anunciar a tão pedida revogação dos R$ 0,20. Festa, ok... mas o que mudou em seis horas? O que foi combinado com a presidentE Dilma e o ex-presidente Lula para a ação articulada junto com o Rio de Janeiro? De onde eles vão retirar o dinheiro para custear a revogação ("nós vamos ter que cortar investimentos")? Todos nós queremos que os cortes provenham de uma administração mais responsável e menos corrupta, mas não foi isso o que foi sinalizado.

E acima de tudo, para provar que realmente não é tudo pelos vinte centavos: todos os protestos são pelo direito de poder participar e sermos protagonistas nas decisões das três esferas governamentais e não apenas entrar com o dinheiro para custear os desmandos dos políticos. Fizemo-nos ouvir, mas ainda somos tratados com unilateralidade. A revogação foi feita em um anúncio e não em uma coletiva, onde as perguntas acima poderiam ter sido feitas.... ou eu estou sendo ingênuo?


Sim, acredito que esteja sendo ingênuo. A revolta e os protestos não foram apenas contra os três poderes nestes últimos dias, mas também contra o "quarto" poder, a imprensa. Sempre ouvia com bocejos aos meus amigos "radicais de esquerda" que sempre postam que Globo, Veja, Folha e Estadão são vendidos e atrelados ao establishment. Mas para ser bastante caridoso, a semana passada foi uma grande prova disso. Desde os editoriais de Folha e Estadão, que incitaram a violência policial da quinta-feira, aos esquizofrênicos tratamentos de Arnaldo Jabor e Veja aos protestos (comparando os manifestantes ao PCC e a vândalos), os quatro grandes viraram a casaca de maneira vergonhosa para não ficar com a imagem completamente abalada diante da opinião pública (... ainda estou para ver neste sábado a capa da Veja ou Vejinha com o título "os heróis dos vinte centavos").

Mas para ser construtivo e continuar falando das lições que podemos aprender, quero muito que a cobertura política pare de ser uma coluna social de fofocas entre partidos, de mensagens leva-e-traz e disputa de pré-primário em tempos de eleição, onde o que importa são as pesquisas e quem está na frente. Está na hora de propor uma agenda, de expor problemas que farão a sociedade crescer como um todo e fazer as perguntas além do óbvio, enxergar além. Não deve ser difícil... o povo, ignorante, analfabeto e esfolado de impostos enxergou, está propondo e continuará propondo. De que lado os quatro poderes estarão nesta nova realidade?

Link da foto: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/19/rio-e-sao-paulo-anunciam-a-reducao-da-tarifa-apos-pressao-popular.htm